Da seriação para os ciclos: trocar seis por meia dúzia ou de fato avançar na educação?

Por: Luiz Eduardo Mendes Batista*

Sou recém-empossado do concurso para professores efetivos do DF. Fiz essa escolha, mesmo sabendo que poderia ser chamado em outro concurso para ocupar o mesmo tipo de cargo realizado em meu estado, Minas Gerais. Minha opção não foi aleatória. O motivo que me levou a fazer uma mudança radical de “endereço” tem a ver, dentre outros motivos, com as possibilidades que são dadas aos professores de construírem argumentos e ideias que corroborem com a educação. Inclusive, para quem não sabe ainda, o DF é afamado lá fora por constituir uma classe de docentes que, de fato, lutam pela educação e se esforçam por tentarem sempre inovar no campo do ensino.

Sobre essa última fama, recentemente tem se discutido (aliás, me parece que a tendência está mais para imposição que para discussão e debate) sobre a implantação da estrutura de trabalho pedagógico por meio de ciclos de aprendizagem (e de semestralidade). As convicções postas pelo atual Secretário de Educação, também professor, são até saudáveis, pois apontam uma possível solução para os sérios problemas da evasão escolar, de repetência excessiva, dentre outros. A meu ver, o problema está no como o Secretário e seus “auxiliares” têm colocado as coisas. Só para apontar uma dessas colocações, um trabalho por meio de ciclos no ensino fundamental II, por exemplo, permitiria que o aluno estudasse por um período maior (2 ou 3 anos, por exemplo) sem correr o risco de ser reprovado em apenas um ano, como ocorre no sistema de seriação. E daí?

Problematizando…

E daí que é bem interessante a proposta, mas não há detalhamento no modo como as coisas devem/ podem ser trabalhadas; não se detalham métodos nem estratégias efetivas. Afinal, adianta aumentar o tempo em que o aluno permanece estudando sem ser reprovado, se o professor continua ensinando a conjugação verbal em seu modo mais arcaico e tira ponto ou diminui o conceito caso ele não sabe que o “certo” é “caibo” e não “cabo”? O fato é que o aluno vai demorar dois anos ou três para ser reprovado, mas… e depois desse tempo?

CLIQUE aqui e leia a íntegra do artigo

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* Luiz Eduardo Mendes Batista, professor efetivo de Língua Portuguesa da Secretaria de Educação do DF e Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Uberlândia.

** Artigo escrito especialmente para este blog

5 Responses to Da seriação para os ciclos: trocar seis por meia dúzia ou de fato avançar na educação?

  1. Fabíola Gonzaga de Freitas disse:

    Não estão preocupados com a qualidade da educação. Fica claro pela fala do Secretário de Educação que a preocupação é reduzir os índices de reprovação e não interessa avaliar as causas da falta de aprendizagem. Sou do Rio de Janeiro, moro em Brasília há 4 anos e sempre conheci a educação no DF como uma referência nacional. Agora uma grande decepção este governo do PT. Estão fazendo o que criticaram no governo do César Maia. Sugiro a leitura do livro Ciclos escolares – Como areia no alicerce (de Esther Pillar Grossi – ex deputada pelo PT no RS) sobre porque é um equívoco a organização das escolas em ciclos.

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  2. Cristino Cesário Rocha disse:

    WD e demais visitantes o texto de Luiz Eduardo Mendes Batista explicita uma crítica ao modo como se tem tratado a educação pelo Secretário de Educação e pelo próprio conjunto da liderança do GDF. Essa crítica vem sendo levada a cabo por diversos docentes que compartilham saberes neste blog desde 2012. O assunto Ciclos e Semestralidade tem sido ponto nevrálgico de discussão, sendo providencial o que Batista problematiza.
    Penso que Ciclos e Semestralidade não são trocas aleatórias. Pode-se fazer um ótimo trabalho com essas possibilidades, mas não é tudo. Aqui está uma das diferenças: perceber que mudança de tipologias não seja o suficiente para atingir objetivos técnicos, políticos e epistemológicos. Outros fatores já estão dados desde os primeiros momentos dessa discussão que não começou agora: necessidade de diálogo entre Sociedade Civil e Estado, ambiente favorável em todos os sentidos, valorização dos profissionais da educação, sistemática do projeto com fundamentos teóricos, objetivos, estratégias e recursos, além de uma avaliação contínua do andamento do projeto.
    Penso que avançar na qualidade, o que todos nós almejamos, carece de um olhar para trás para melhor compreender o presente e projetar o futuro. Daí poder dizer que toda educação é ant et retro ocullata (olhar para trás para visualizar o presente). Não quero com isso reforçar a ideia de “herança maldita”, mesmo porque isso não cola mais no atual governo. Vejo que saber analisar o passado é importante para conduzir o presente. Ademais, no atual contexto educacional do DF cabe também avaliar em que medida uma ação de nível governamental pode impactar na Sociedade como um todo quando se faz opção pela invisibilização e negação de diferentes falas, sujeitos e grupos sociais.
    Já fato inegável que representantes do Estado e não do povo pretendem empurrar um projeto de cima para baixo. É fato também que sem um movimento de contestação com propositura concreta o Estado continuará sendo o Leviatã confundido com governabilidade. Nesse momento é oportuno dizer que ações impositivas dos Senhores e Senhoras que hoje ocupam o poder público serão registradas no inconsciente coletivo. O trabalhador (a) pode esquecer aspectos da agenda política, mas não perde a dignidade…

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  3. Osmildo Felício disse:

    Caro WD;
    Sou jornalista, morador do Recanto das Emas, e tenho por hábito, de vez em quando, dar uma rápida espiadinha aqui em seu blog. Quero, aliás, parabenizá-lo pela iniciativa e, sobretudo, pela coragem, pois vejo que, usando o bom português, você costuma “colocar a cara para bater” todos os dias, ao publicar suas críticas.
    Normalmente, não costumo opinar, mas este assunto em particular conseguiu arrastar-me para o debate. Aparentemente, levando-se em consideração algumas publicações deste blog (de que o GDF não debateu com os professores) o secretário parece ter errado em pelo menos dois momentos. Este, obviamente, foi o primeiro e fundamental. O segundo, em minha opinião, parece que foi o fato dele não ter conseguido adaptar o desejo de acertar, de fazer algo midiático, com a atual realidade educacional brasileira. Não tive acesso ao plano pedagógico, apenas li e assisti alguma coisa a respeito, mas a meu ver, com uma tacada apenas ele parece ter conseguido tirar a educação do DF de sintonia com o Enem/Prouni, faculdades particulares e públicas e com a própria estrutura física das escolas públicas.
    Como ele fez isso? Explico: Hoje, todas as faculdades praticam algo que se parece bastante com essa tal semestralidade proposta pelo governo. Aquilo é excelente. Se você está no curso de jornalismo, por exemplo, cada semestre você tem acesso a diversas disciplinas e ao final, após diversas avaliações e trabalhos, você aprova ou reprova. Isso é muito positivo, pois mesmo que alguém reprove, a distância dele para os demais alunos será apenas 6 meses. E ainda mais positivo é o fato de que o aluno será capaz de lembrar sem grande esforço de muitos dos ensinamentos e até mesmo decorebas no próximo semestre, o que torna menos desgastante para o aluno. E também aquele aluno que saiu mal desde o primeiro bimestre (nem sei se ainda é assim), não ficaria se arrastando durante o ano todo para saber que foi reprovado.
    Então, o secretário parece não errado totalmente ao adotar a semestralidade. O problema foi ter adotado a semestralidade, mas não a aprovação ou reprovação. Parece que ainda teve outro: esse negócio de colocar cada semestre para poucas disciplinas ou uma só, salvo engano. Se ele faz isso, simplesmente desconecta os alunos do DF dos demais alunos de escolas públicas do país. E a pergunta que fica é: Como eles enfrentarão o Enem? Em suma, ele nem precisaria ter queimado neurônios (se é que fez isso, obviamente) para criar nada. Poderia ter simplesmente copiado. E talvez fosse até positivo, pois além dos reais benefícios que enumerei anteriormente, passaria a ideia de que estaria fazendo uma adequação à realidade das faculdades brasileiras. Não seria mentira. Arrisco a dizer que ele até seria aplaudido.
    Minha opinião é: Tivesse o secretário sido humilde (pois dá a impressão que faltou isso: humildade), teria se reunido com os professores, pois o Sinpro, desculpe eventual equívoco, sempre foi de esquerda e lutou fortemente pela eleição do atual governo. Com todo este predicado, seria mais do que óbvio elaborar o Projeto Educacional em conjunto com o Sinpro. Acho que o certo seria ele rever essa posição e antes de começar o ano letivo se reunir com o Sinpro. Educação é coisa muito séria, ainda mais nesse tempo de violência medonha que estamos hoje.
    O que poderia ter acontecido se ele tivesse se reunido com o Sinpro quando teve esta brilhante idéia da semestralidade? Alguém poderia ter falado isso pra ele. Ou alguma coisa parecida. Viu aí, senhor secretário? Debater é saudável. Pensamento fixo, unilateral, é para os loucos e ditadores.
    É por isso que o velho Raul disse um dia: “Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”

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  4. Bin disse:

    Sem dúvida, será a geração da cifose (corcundez) e surdez, o governo terá que investir em bengalas e aparelhos auditivos para os alunos, para professores cursos de libras.

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  5. Cleber disse:

    Há quase 20 anos atuo na rede. Estou cansado das mudanças de nomenclaturas: ciclos básicos(iniciando, continuando, concluindo) BIA, seriação, e agora ciclos novamente, turmas de reintegração, aceleração, correção de fluxo…
    Passam as décadas, provavelmente em 2013 teremos um monte de palestras sacais, que nos tentarão convencer de que esta nova política é melhor que as passadas.
    Vão inventar novos formulários, diários, cursos enche-linguiça.
    Sou proessor e perquisador na área da educação ficar mudando nomes e inventando projetos mirabolantes, por parte do governo NÃO vai melhorar a educação.
    São necessários locais adequados, estrutura de profissionais, equipes psicopedagógicas atuantes, esportes, atividades interessantes, salários que no deixem confortáveis e não revoltados, verbas que possam ser usados em projetos de interesse da comunidade escolar, gestores competentes, política de gestão de pessoas para professores, dentre outros.

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